quinta-feira, 29 de abril de 2010

Vagando

"Esse é apenas um blog recheado de carinhopara suportar as reviravoltas da vida.Retrato do encontro de dois mundos totalmente opostos.Eclipses da vida. Ou se preferir simplesmente a história de um grande amor.Um presente simples, para alguém tão especial na minha vida."

Sou uma janela... Branca... Grande.... De madeira resistente e de lei. Com arcadas e venezianas para você espiar através do meu corpo. Gosto que me abra bem devagarzinho e que escute os meus ruídos de reclamação. Procuro a todo instante lhe mostrar o mundo de novas formas. Você pode até ter a sensação de que a paisagem é a mesma, porém cuidado. Atenção. Repare nos detalhes. Sempre há uma surpresa. Nunca surgirá algo-daqui-de-dentro de uma maneira igual.

Enquanto me abre, alguns elementos que compõe a magia do momento lhe farão companhia. Como o vento. A luz do sol. A luz do sol refletida pela lua. O meu mar de oblíquos pensamentos. As nuvens. A cidade. Os meus não’s e sim’s. A natureza de pecados os quais me circulam e me causam prazer. Há violetas no parapeito. Elas atraem as gulosas borboletas que não se cansam em passar por minhas entranhas-divisórias. Assim como você gostaria de fazer.

A cada vez que me abre, eu me mostro diferente. Cheio de cores. De amores. De virtualidade. Sou tão virtual quando os pixeis visualizados no seu monitor. Aqueles mesmos. Em RGB. Eu os trabalho no Photoshop. Dou outra vida. Dou outro ton. Eu modifico o seu pensar e os seus sentimentos. As fotografias, os desenhos e as imagens são geradas de acordo com os meus temperos e as minhas aventuras. Ou também pelos meus olhos, ou pela minha incansável imaginação. Procuro fazer você observar o futuro e o passado com palavras e graduações da minha voz.

Posso ser também uma instalação em um canto da sua casa. Feito de papéis recicláveis e sons. Sons que eu emito e você ouve. Você grita e eu escuto. Ou então, tudo em volta emudece e ninguém mais ouve nada além dos nossos próprios corações. Gosto que me toque. Crie-me com vontade de investir em saúde e saudade. Ouse comigo e me molde ao seus braços e mãos. Abuse do seu lado criativo e me diga com sinceridade: você me ama como me pinta ou me pinta como me ama?

Felizes são aqueles que não podem sentir mais, que perderam o desejo, que suprimem os pensamentos e se concentram no trabalho para esquecer, para isolar o sofrimento. Pois a dor de sentir e não poder ter é sufocante. O mais simples e, ao mesmo tempo, mais refinado dos sentimentos pode por tudo a perder - ou a ganhar - em instantes. O pulso acelera, as idéias e fantasias acumulam-se formando uma avalanche perversa que te guia obstinado para o abate da presa, que na maioria das vezes é você mesmo.

O mundo cai como um tijolo no meio do cérebro, a faca retorce dentro do peito, o pescoço é esmagado pela sensação de desespero, e aos céus, agora tão próximos, são voltados nossos olhos e o que restou da alma em busca da salvação. A missão cumprida, o plano perfeito, o alvo atingido, e o reflexo é a vida estilhaçada em milhares de cacos insignificantes, incoláveis. Não há para onde fugir, não há como voltar, não há mais nada, nada. Só o vazio, preenchido com uma sensação de aperto, esmagando o coração e o espírito.

Mas o armário guarda a chave do paraíso perdido, as pílulas da redenção, a luz negra no fim do túnel, o término do muro das lamentações. Quantas? Uma, duas, trinta, tudo. E o tempo não passa. Parece lentificar, para punir com desdém, talvez crueldade, os fracos, que julgaram ser deuses, intocáveis, donos da verdade. A escuridão que se aproxima afasta momentaneamente o sofrimento, entorpece as idéias, alivia a dor. E tudo mais vai acalmando, devagar, a passos lentos, ora largos.

O fogo vai apagando, a luz da alma torna-se fraca, trêmula, esguia. A sombra da escuridão abraça o resto da vida estilhaçada, que fora perfeita num instante, agora reduzida ao lamento da chama que se apaga. O sono abençoado, eterno, chega em um barco imenso, repousando sobre um oceano agora calmo, conduzido por uma vela serena, constante, segura. E o apocalipse do plano infalível toma conta da imensidão, transformada em precipício, sem fim, sem começo. Vazio, humano. Pelo menos até o próximo desejo.

Um Feliz dia 29.